Monday, October 23, 2006

O Arcanjo Curitibano - Capítulo III

III - A fuga de Carlos

"Um lugarejo no meio do mato
Sumir deste frio, remando ou a nado
Se de repente o sumiço vier, que será que faço?"

Carlos - Não sei se jogo, só sei que passo

Receio o regaço, mas não trapaceio
Amarro os sapatos da pequenina, ganho um abraço,
Mas não me escapa a jogatina; o palpite; a coragem
Dou alpiste aos pássaros...

... entre os dedos me escorrega o dado

Um... dois... três...
Lanço-o outra vez

Vejo o cavaleiro unitário, solitário
Triste galope, tom de despedida, adeus que nunca ocorre
Lado a lado o tempo corre, despedir calculado,
vaidoso, calculado, generoso, mal intencionado
Feridas escondidas, palavras medidas:

Narrador - Toda vez que me faz chorar, me mato

Soluçante, esbarro com um medo inventado,
que justifique o último cigarro e
todo o restante dos atos impensados,
como antes, sem passado...

Vagaroso vaga-lume, chama do candelabro
Não sei se fico, não sei se parto
Não sei se remo, não sei se nado
Quem dera dois mais dois
nem sempre fosse quatro

(Vinícius Andrade Vieira)

Segue a publicação de textos do meu colega. Espero que estejam gostando.

Monday, October 16, 2006

O Arcanjo Curitibano - Capítulo II

II - O outro lado da moeda

Eu amo Curitiba, Curitiba é minha pátria; no centro dessa província eu vejo o relógio das flores circuncidado pelo vento gelado, no vão das pessoas apressadas de cara amarrada, fechadas no seu mundo, assustadas pelo medo de si mesmas, medo que assombra a escuridão da rua, a sombra das araucárias.

Que olhar romântico este, não se pode esquecer da imundice mais para baixo, das praças que, dos velhinhos, passo a passo, foram tomadas pelos marginais. Logo acima, os aristocratas, "panacas", suspiram a fraqueza de seus atos, sua felicidade podre, sua mediocridade estampada na fachada de sua moral (aparentemente superior) vazia. Transitam a ilha, saem de seus apartamentos de luxo na Alameda Dom Pedro e entram nos bares da rua de tantos nomes, famosa Avenida Batel, enquanto as filhas dos senhores (repletos de verdades prontas, conceitos éticos superficiais, primordialmente estéticos; semelhantes aos maginais em matéria de alcalóide) comprovam a tese para a qual este texto todo serve: "o que os olhos não vêem, o coração não sente".

Em tempo tão moderno, tempo de expressão libertina, pode-se dizer claramente, em tom rude e sucinto: "se aos olhos de papai eu sou um anjinho, pelas costas eu minto, apronto e 'sacaneio' à vontade, e 'sacaneio' mesmo, no sentido real do termo".

Saturday, October 07, 2006

O Arcanjo Curitibano - Capítulo I

Este conto foi escrito pelo meu colega Vinícius Andrade Vieira, e será publicado semanalmente em 13 capítulos. Boa leitura!

I - Curitiba do medo da mulata

Anos vêm anos passam
Na rodovia os carros param
O sorriso das crianças que me abraçam
E a fumaça do negrinho sai da lata

Curitiba aristocrata
Cidade ingrata
Com a mulata, com a polaca
O medo, a passeata

Que arrasta e é arrastada
Como caco de vidro na nevasca
Na gargalhada do alemãozinho no canto do bar
Do bairro escuro que dá as graças do mal
Enquanto dormimos mais uma noite de nossa vida normal

Imaginando como seria fugir desse frio,
Do vento gelado de abril

Da cara febril
Das pessoas nos tubos
Esperando pelo trem
A imaginarem se sobreviverão por mais um mês que vem...

Mr. Moogle