Saturday, May 19, 2007

Miguel embora Miguel

Miguel era um garoto confuso e contraditório. E na relação dessas qualidades, não se podia afirmar qual era causa e qual consequência. Menos ainda, que uma implicava na redundância da outra. Miguel não acreditava em sinônimos. gostava das teorias sobre significante e significado dee Saussurre. Apreciava a idéia de um significante, variando-se o contexto, adquirir vários significados. Todavia Miguel supunha que cada palavra possuía um sentido original e singular. Cada sginificante tem seu específico valor e exprime uma idéia definida. Portanto não existem sinônimos para Miguel. Até porque, se duas palavras servissem para expressar exatamente a mesma coisa, por que seriam diferentes? Por que seriam mais que uma?

Miguel gostava das teorias.
Uma vez, no bar com os amigos, Miguel viu que gostava de bares. Pensou que as melhores conversas e amizades se formavam e se mostravam nos bares, embora admitisse também que pudessem se dar em qualquer outro lugar. No Velho Continente por exemplo. Ainda assim, seria num bar. Ou melhor, num pub europeu. Miguel apesar de simples, gostava de requintes e, se estava na Europa, por que não num pub ao invés de um bar?
Enfim, no bar com os amigos, Miguel percebeu que não gostava de positivistas, ainda que admirasse a coragem que possuíam de defender apenas um ponto de vista. O garoto não acreditava em verdades absolutas e situações passíveis de única análise. No bar, Miguel perceebeu que seus amigos eram todos uns positivistas e, temeu classificá-los assim porque desta forma agiria como um e talvez se tornasse igual. Pela conversa ele notou que não gostava de seus amigos. No entanto seus olhos reluziam vendo-os se maltratarem por suas teorias. Miguel queria aquela coragem e determinação para ele. Na disputa pela razão, viu que seus amigos e positivistas em geral eram uns bundões sectários. Concordava com Paulo Freire que existem sectários e radicais. Os radicais discutem e defendem suas formas de pensar enquanto os sectários apenas divergem. Miguel pensou que de cem positivistas, dois são radicais e noventa e oito bundões. Na mesa do bar existiam bundões e radicais, embora não houvessem mais que seis pessoas. O garoto ria dos bundões e observava os radicais. Discordava destes, mas extasiava-se com a força que defendiam suas opiniões conclusivas ainda que desprovidas de argumentação básica. Miguel queria poder defender algumas opiniões formadas, mas não as tinha. É isso! Miguel queria ter opiniões!

Miguel era um garoto de teorias infinitas e conclusão nenhuma. Talvez por isso o seu insucesso com as meninas. Mas isso é irrelevante.
Miguel gostava de argumentações e chegava a se perder nelas. Em minutos, se des-dizia inúmeras vezes e chegava a lugar nenhum, embora fosse este o seu "lugar comum" (Miguel não gostava de rimas em prosas). Por ser assim, Miguel era um garoto crente e descrente de tudo. Não punha sua certeza em teoria nenhuhma, no entanto, acreditava em quase todas para que uma se chocasse com a outra e destruísse a possibilidade de uma única hipótese. Miguel acreditava para desacreditar, e vice-versa. O garoto acreditava que tudo estava da melhor forma quando tudo ia mal, e no contrário disso também. Miguel gostava de Voltaire. Acreditava ainda na alegria embora houvesse tristeza, ,no ódio, embora o amor, na fé, embora a razão, em Miguel. Embora Miguel.

Monday, May 07, 2007

O Arcanjo Curitibano - Capítulo VI

Antes de tudo, peço desculpas a nosso estimados visitantes pela demora em atualizar o site. Desculpas também peço ao amigo Vinícius de Andrade Vieira, autor dessa série de poemas.

VI - Balada do Louco; à Bandeira de Ícaro

O alcalóide que deixa rouco
barroco poeta louco
caboclo que viveu pouco
musa de compositor canhoto

perdoa, meu velho, o moço
as palavras de vinhoto
nuvens de idéia de esgoto

espere daqui a pouco
que selo todo o seu desgosto

lembro tanto quanto ouço
saudoso peito
batuque de três notas só
só...lá...si, dó
do piano do teu rosto

de poeta morreu pouco
já não mora no beco
suspenso o cômodo
poeta terno, eterno
Bandeira moço