Saturday, June 16, 2007

Química

Descobri o gosto pelo estudo quando notei que nada mais era que um diálogo. Sempre gostei de conversas, de ouvir histórias, verossímeis ou não, de compará-las às minhas opiniões e de tirar algum proveto nisso. Demorei a reconhecer nas letras e linhas a presença de um outro alguém querendo apenas compartilhar comigo algo que sabia. Hoje, penso que demorei demais. Em uma dessas conversas , descobri algo que me chamou a atenção. Não apenas em uma conversa, e nem apenas uma idéia me impressionou na minha "vida de estudo", contudo é apenas com uma em específico que quero gastar tempo agora.
Há poucos dias ouvi dizer que as sensações são apenas reações no nosso organismo. Amor, Prazer, Tesão, Paixão, Tristeza e etc... tratam-se simplesmente de elementos químicos ou biológicos, sei lá (estava distraído durante a explicáção) combinando-se no meu corpo. Brilhante! É a forma mais fácil e racional de te diminuir. De tirar teu valor em mim. Te simplifico a reações químicas.
Durante a exposição do assunto, me disseram também que não somos viciados em álcool, tabaco, anfetamina, entre outros. Somos viciados na reação que esses elementos nos causam. Fui tomado de enorme euforia. Não dependo da Paixão, do Tesão e muito menos de Você. Te rebaixei a uma forma uma humana que com traços, gestos, cheiros e frases faz com que, involuntariamente, excitem-se algumas cadeias ramificadas no meu corpo. Sinapses e neurônios são o que me condemam. Temi por instantes que em mim, haja pontos que sejam próprios para o teu sorriso, tua pele, pernas e teu perfume (não o que usas, mas o natural). Todavia, prefiro e me obrigo a crer que estes pontos possam ser atingidos e suas sensações suprimidas por qualquer outra forma de mulher. Acredito (ou me forço a isso) que não sejas a única capaz de despertar tais reações. Seria injustiça divina.
Entretanto, caso fores realmente singular, já pensei em extrair-me o que me faz te sentir. Como diriam os práticos: "cortar o mal pela raiz". Queria nesse ponto ser cínico e cruel pra dizer que como solução, me bastaria perder o pênis ou os testículos. Não os sou. Ao contrário do que penso querer, sou sincero e bobo. Nesse momento derradeiro de raiva e angústia, teria que arrancar-me o cérebro, de forma racional, e o peito, porque me fazes agir feito romântico.
Até agora, reclamo você.



Texto explodido e não relido.

Monday, June 04, 2007

Ele entra no banheiro depois de um cigarro e um café. Seu laxante predileto. Sentado na privada fuma mais um. Não precisa de um atrás do outro, mas aproveita a brasa do quase finito. Seus fósforos acabaram. Olha pro ralo. Os cabelos que somente eram lembrados quando o banheiro alagava agora servem também para trazer ela a memória. Pensa em tirá-los de lá. Não. Melhor deixar como está.
A cama continua como deixaram. Desde que terminou começou a dormir em outro lugar. Outras cobertas. Outros travesseiros. O mau humor matinal voltou, como se sempre fosse assim. Sempre depois do meio dia. Sempre sem nada para o dia. Hoje ele pensou em mudar alguma coisa. Mas somente pensou. Tinha o todo necessário para mudar. Melhor deixar como está.
Ainda no banheiro alcança as unhas do pé. Sujas da terra do futebol do dia anterior. Ela não gostava assim. Queria tudo muito bem limpinho. Lindinho. Certinho. Não tomou banho depois do futebol. Não tomou banho quando chegou em casa. Não tomou banho quando chegou. Tomou três cervejas. Pensou em limpar as unhas. Quem sabe cortá-las. Melhor deixar como está.
Ele pensa em como vai ser quando o dia acabar. A hora de dormir. Pra quem consegue. Claro. Gostaria de dormir com os bebês. Mas o sono não vem. No máximo o cansaço. Do que? Talvez de ficar pensando. Pensando. Pensando. Dorme sem sono. Sem cansaço. Apenas por desistir de ficar acordado. Ouve Caetano, Chico, Cartola, Bosco, não ouve mais nada. Não dormiu. Apagou. Ligou. Acordou. Um buraco na rotina. Pensou em fazer tudo diferente. Melhor deixar como está.
Pega um livro. Lê a capa. Contracapa. Contra o que? Re-lê a capa. Devolve pra estante. Sons do outro lado da parede. Tudo como sempre foi.