Monday, November 20, 2006

O Arcanjo Curitibano - Capítulo IV

IV - Músicos, malabaristas, boêmios, jogadores e moças de roda

Que estavam vocês a fazer a essas horas?
Sentados à mesa, soprando a fumaça de cigarro que trafega rumo a Veneza.
Mentindo pra ganhar, mentindo pra perder...
Sorrindo a cantar, sorrindo a beber...

Que estão vocês a fazer a essas horas?
Deixando zumbizar o zumbido da vitrola,
Deixando apitar o apito da viola,
Deixando chorar o cavaco que já não chora.

Que estará você, loirinha, a fazer amanhã de manhã?
Quando tudo passar, jogatina e Iansã...
E se chover devagar, serenata de algodão
Eu te ponho, neguinha, a ninar.

A bebedeira de outro dia que andaste a exagerar
Eu te abraço, neguinha, pra curar.
Eu te dou um cansaço daquela idade, pra poder descansar.
Pra felicidade bater e fazer a mente sã.

(Vinícius Andrade Vieira)

Saturday, November 11, 2006

O mar canta a minha poesia
Eu não ouço a sua voz
Belos versos de declamação a sós
Canta pra quem foi e quem ia.

Minha poesia fez o mar se calar
Chorar rios de lágrimas
Num sem cessar
Minha poesia divide o mar
Chorei por ser sectário

O mar salgou os meus versos,
Temperou minhas estrofes
Afogou minhas rimas.

Quebrou minha musa com suas ondas.
O mar levou meu artista junto com a água do meu corpo
Levou meu corpo
Junto com a tristeza
Tristeza que levei do mar.

Tristeza que levei
Levei sem poesia
quando deixei o mar.

A ida não é pra sempre
É só pra explorar,
Pra catar por traz dos montes
a Poesia que não tem mar

O mar foi feito pro homem
com serei pra encantar
O rio foi pra mulher
Com boto pra saciar

Seguindo de rimas pobres
Não paro o caminhar
Subo logo pelas montanhas
Pra no planalto chegar

Tem gente que jura jurado
Jura sem pestanejar
Que do meio do planalto
O mar da pra avistar

Fui pro meio do planalto
Pra do meu mar saudade matar
Olhei pra todos os lados
Sem uma gota d'água enxergar

O goiano me olhava perdido
veio tentar me ajudar
menino olhe pro alto
E me diz sem medo de errar

Esse céu cheinho de estrelas
num da pro mar comparar?
Quietinho eu olho pro alto
Tristeza de quem não vê mar

Soltei num instante um sorriso
Ao ver minha mãe Iemanjá.