Thursday, May 04, 2006

Memórias de um Sapato

Quebrando paradigmas, aqui estou pra postar um texto em prosa ao lado de tantos poemas. Escrevi este texto como um trabalho de Redação, que pedia uma narrativa em terceira pessoa, sendo que o protagonista seria um sapato. Como esse não é o meu caso, deixei o cargo pro personagem Guigo Ventori. Espero que gostem!

Você talvez não acredite, mas um sapato pode ter uma boa história de vida pra contar. Não falo destes calçados que mal saíram da fábrica, mas daqueles que, como eu, passaram mais de dez anos a serviço de seus donos. Bem, já que você começou a ler, vou lhe contar minha história.

Meu primeiro dono se chamava Francisco Festare e era um dos penetras mais bem-sucedidos que já conheci. Ele fazia parte de um grupo de quatro amigos advogados que se divertiam indo a festas sem terem sido convidados. Entrei nessa história há mais ou menos quatorze anos, quando o Chico me comprou (junto com meu irmão gêmeo, Carlos Cadarço) numa loja de artigos importados.

Como pude ver, meu dono e seus amigos jamais entravam de penetras numa festa sem antes estarem preparados, sabendo os nomes dos anfitriões e suas histórias mais interessantes (para uma boa conversa). O preparo era dispendioso, mas o grupo sempre saía lucrando: além dos doces e do champanhe (só tinham como "alvo" festas de casamento e despedidas de solteiros de classe), os amigos sempre curtiam namoros que terminavam numa cama de casal. Eu não chegava a presenciar a coisa toda, porque seria indiscreto da minha parte e, além disso, o que realmente me atrai nas mulheres são suas belas sandálias de festa.

A farra durou até meados de Julho de 2005, mês em que meu dono foi àquela que seria sua última festa de penetra. Foi nessa que conheceu Melissa, seu primeiro par a quem foi realmente fiel. No dia seguinte à festa, o velho amigo Chico percebeu que aquela mulher tinha "algo mais", que era diferente das outras. Assim, o namoro se tornou oficial e levou a casamento. Como bom namorado, meu dono prometeu à Melissa que não iria de penetra a outra festa enquanto o amor deles vivesse.

Em sua despedida de solteiro (seu fiel grupo de amigos estava lá), ele me pendurou em seu pára-lama antes de sair para a lua-de-mel. Infelizmente, acabei caindo no meio da estrada, onde passei alguns dias tentando conversar com uma vaca.

Por sorte, fui encontrado por um andarilho muito simpático, chamado José Matheus do Alambique. Ele não parecia estar em seu perfeito juízo, mas passamos horas conversando e ele me levou para sua casa. Espero que meu irmão, o Chico e sua esposa estejam felizes, porque eu estou: conheci um par de sandálias havaianas que são "pra casar"!

Abraços a todos.

5 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Bem interessante o texto..divertido e bem escrito...boa estréia!!!
sei que ficou sem saber exatamente o que colocar aqui no meio de tantas poesias legais!
Agora vou esperar pelos próximos...que tal me avisar quando acontecer alguma atualização, sua ou dos outros membros do grupo?!
Adorei a idéia do blog, com certeza idéia do Rômulo, e com tudo pra dar certo! Parabéns e muito sucesso pra todos!
Beijinhos meus, Zezinha

6:46 PM  
Anonymous Anonymous said...

Parabéns pelo excelente texto, de rara beleza literária, tendo como motivo "um sapato", acessório que muitos não dão o devido valor.
Seu admirador anônimo e conhecido pai

7:16 PM  
Anonymous Anonymous said...

Paradigma quebrado com estilo, adorei o texto!

11:27 AM  
Blogger canela fina said...

queria ser um branco de ponta preta muito bem lustrado rs

9:57 AM  
Anonymous Anonymous said...

Me lembrou 'Memórias de um cabo de vassoura' do Orígenes Lessa, um dos meus livros preferidos da minha infância (junto com Heidi e Sofía, a desastrada, hahahaha).

Ficou bem legal!!!
;)

8:42 PM  

Post a Comment

<< Home